Movimento sindical latino-americano discute democratização dos avanços tecnológicos no setor financeiro
14/11/2024
Evento, coordenado pela UNI América Finanças, em Bogotá, abordou também defesa dos bancos públicos
Defesa dos bancos públicos e transformações no sistema financeiro. Esses foram os temas abordados sobre a ótica de representantes do movimento sindical dos vários países da América Latina em dois dias de eventos, terça-feira (12) e quarta-feira (13), em Bogotá, capital da Colômbia, realizados pela Uni América Finanças, braço da UNI Global Union, que representa mais de 20 milhões de trabalhadores de serviços no mundo.
No primeiro dia, o debate sobre a defesa dos bancos públicos contou com a participação da diretora executiva da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE) da Caixa Econômica Federal, Eliana Brasil. “Desvinculamos a ideia de que a Caixa é uma espécie de Banco Central, uma confusão comum na visão de muitos colegas latino-americanos. Então, falamos do papel da Caixa, como um banco 100% público e 100% do governo, em questões fundamentais para o desenvolvimento do país, atendimento aos programas sociais e inserção da população carente no sistema bancário”, conta Eliana.
A secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Rita Berlofa, que também participou do evento representando a comitiva brasileira, completou que o debate sobre a proteção dos bancos públicos segue necessário na conjuntura mundial. "Essas instituições têm papel fundamental para o desenvolvimento dos países, porque viabilizam políticas econômicas e sociais, mas estão sob constante ataques e risco de privatização por parte do mercado. Isso porque os bancos públicos são instrumentos utilizados para resolver falhas que o próprio mercado provoca no sistema financeiro. Na questão trabalhista, no Brasil, por exemplo, os bancos públicos ainda são os que menos demitem e fecham agências e, nas negociações coletivas, são onde conseguimos estabelecer maiores avanços trabalhistas, que acabam impedindo que os bancos privados avancem de forma mais acelerada no desrespeito das normas trabalhistas, a despeito dos sérios problemas que estamos enfrentado com o aumento de contratação fraudulenta de mão de obra, mascarada em terceirizações, sobretudo no Santander”, completa.
Impactos da IA e da digitalização no sistema financeiro
“O diagnóstico é que todos os países estão enfrentando as mesmas mudanças, seja em maior ou menor grau: a redução de postos de trabalho com o aumento da digitalização e da inteligência artificial (IA) no setor. Então, a discussão foi como encontrar soluções para que os benefícios tecnológicos sejam incorporados pelos trabalhadores, caso contrário todos seremos fortemente afetados com aumento da desigualdade”, destaca o secretário-geral da Contraf-CUT, Gustavo Tabatinga, que participou como palestrante no debate sobre os impactos das transformações tecnológicas nas relações trabalhistas.
No evento, ele citou duas conquistas que a categoria bancária brasileira obteve neste ano, nas mesas de negociação para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), como forma de enfrentar o momento disruptivo: o comprometimento dos bancos de oferecer cursos de requalificação profissional para adaptar a força de trabalho às novas demandas tecnológicas, e bolsas de estudos voltados para as mulheres, a fim de garantir a capacitação e manutenção delas em Tecnologia da Informação, área que mais cresce em vagas no setor hoje.
“Além de falar dessas conquistas que trazem soluções iniciais no nosso setor, também destacamos que, no Brasil, estamos prestes a conseguir no Congresso a tramitação de uma proposta de emenda à Constituição para reduzir a jornada de trabalho, sem redução salarial, que é uma bandeira histórica de luta nossa. Os avanços tecnológicos permitem a redução de jornada, para que as pessoas tenham tempo livre de qualidade para seus familiares, lazer e desenvolvimento pessoal. É também uma maneira de fazer com que os benefícios da IA não sejam incorporados apenas pelo capital, mas também pelos trabalhadores”, conclui.
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