Contraf-CUT reforça luta da categoria na 113ª Sessão da Conferência Internacional do Trabalho da OIT, em Genebra
12/06/2025
Participação do movimento sindical bancário em diálogo social tripartite, com Ministério do Trabalho e Fenaban, destaca importância da mesa de negociação para manutenção e avanços em direitos, diante das mudanças impostas por fatores ambientais, sociais e tecnológicos
Nesta quarta-feira (11), a Contraf-CUT realizou, junto ao Ministério do Trabalho do Brasil e à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), o diálogo tripartite do setor bancário “Eventos Climáticos Extremos, Mulheres e Diversidade em Negociações Coletivas", no âmbito da 113ª Sessão da Conferência Internacional do Trabalho (CIT), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que acontece em Genebra, na Suíça.
A presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, abordou as experiências da categoria na conquista de direitos em mesas de negociação. "O texto da primeira convenção coletiva de trabalho (CCT), que obtivemos em 1992, continha 47 cláusulas. Passados mais de 30 anos de negociações coletivas, hoje temos 171 cláusulas em nossa CCT, 85% dessas cláusulas estão acima do previsto nas leis trabalhistas do Brasil: são cláusulas sem precedentes ou com ajustes em direitos acima dos que já estão previstos na legislação", destacou.
Em seguida, a dirigente fez uma rápida revisão das conquistas voltadas especificamente às mulheres, negros e negras, pessoas com deficiência (PCDs) e LGBTQIA+ que trabalham no setor bancário brasileiro, incluindo:
- A instalação da mesa de negociação Igualdade de Oportunidades, em 2000;
- Censo da Diversidade (em 2025 será realizado o quarto da série), instrumento necessário para conhecer o perfil da categoria e direcionar as reivindicações;
- Mecanismos de combate ao assédio moral, sexual e outras formas de violência no ambiente de trabalho;
- Ampliação da licença maternidade de 120 para 180 dias;
- Ampliação de direitos da CCT aos casais homoafetivos.
Sobre os trabalhadores com deficiência, Juvandia ressaltou que o movimento sindical tem acompanhado o cumprimento da cota mínima de contratação de PCDs, exigida pela legislação do país, por parte dos bancos. "Para além disso, conquistamos, na mesa de negociação de 2024, o abono de ausência para reparo ou conserto de próteses e equipamentos. Desde que assinamos a renovação da CCT com essa nova cláusula, foram registradas 101 ocorrências de bancários e bancárias PCDs que se apropriaram dessa conquista. Sem essa medida, todas essas pessoas perderiam horário ou dia de trabalho, o que poderia prejudicá-las na carreira, em mecanismos para concorrer nos processos de ascensão", observou.
Juvandia Moreira fez também um destaque importante sobre a evolução no percentual de negros e negras no setor bancário. "Quando começamos essa discussão, na mesa Igualdade de Oportunidades, a presença era de 18%, agora estamos com 28% de negros e negras no setor bancário brasileiro. E seguimos em discussões com os bancos para ampliar esse percentual", pontuou.
Ações para reverter queda de mulheres no setor
Neiva Ribeiro, presidenta Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região (Seeb-SP), destacou a luta das trabalhadoras para manter as mulheres no setor financeiro.
O aprofundamento da revolução tecnológica nos bancos está atingindo, negativamente, as mulheres. E isso ocorre porque, historicamente, as mulheres foram alijadas dos espaços de formação ligados às tecnologias.
"Um relatório sobre o futuro dos empregos, do Fórum Econômico Mundial, mostra que as mudanças no mercado de trabalho, decorrentes da inteligência artificial generativa, afetarão 22% dos empregos até 2030, com 170 milhões de novas funções criadas e desaparecimento de 92 milhões de funções. O saldo, portanto, será de um aumento de 78 milhões de empregos", destacou.
Por outro lado, Neiva ressaltou que, nos últimos cinco anos, mais de 18 mil empregos bancários foram eliminados no mercado de trabalho brasileiro, sendo 94% desse saldo negativo correspondente aos postos ocupados por mulheres.
"Diante desse cenário, em que sabemos que o futuro do emprego está na área de tecnologia, onde as mulheres, hoje, representam só 25%, nós obtivemos, na última renovação da CCT, o compromisso dos bancos de incentivar a formação de mulheres em tecnologia da informação (TI). O primeiro passo desse avanço são 3.100 bolsas de estudo para mulheres", pontuou.
Combate à violência de gênero
O movimento sindical bancário também lidera no Brasil a criação de medidas de combate à violência de gênero, fruto de debates em mesas de negociação. "Temos um programa de proteção à vítima de violência doméstica, negociado entre os bancários e a Fenaban em 2020 e que prevê a instalação de canais de denúncias, que garantam sigilo às bancárias e acolhimento psicoterápico e jurídico", ressaltou a secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Rita Berlofa. "Uma conquista que salva vidas e rompe com o ciclo de violência", aprofundou.
Rita contou que o primeiro canal foi idealizado pelo movimento sindical bancário, em 2019, resultando no programa “Basta! Não irão nos Calar!”. Em seguida, a proposta foi levada para os bancos, que acolheram a reivindicação, resultando em duas frentes na oferta de canais de apoio às vítimas de violência. Atualmente, 85% dos bancos brasileiros oferecem os canais de combate à violência de gênero e 14 sindicatos possuem canais do programa “Basta!”, abrangendo 532 municípios.
“Por meio desses canais dos sindicatos, 483 mulheres foram atendidas, gerando 267 pedidos de medidas protetivas. Se considerarmos o que foi atendido nos canais dos sindicatos com os que foram atendidas nos canais dos bancos, nós chegamos, em 2025, a 1.161 mulheres atendidas", completou a secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT.
Mudanças climáticas
A experiência dos bancários diante dos desastres ambientais também foi destaque. Em 2024, a categoria articulou, em mesa de negociação com os bancos, medidas que atenderam rapidamente as vítimas de enchentes no Rio Grande do Sul, Petrópolis, região da Grande Recife e do Sul da Bahia.
"Tivemos trabalhadores que perderam tudo, além agências bancárias fechadas. Diante desse cenário, vimos a necessidade de criação de um conjunto de cláusulas e que, agora, estão na CCT, para garantir o apoio dos bancos aos empregados e empregadas. Essas cláusulas incluem a criação imediata de um comitê bipartite, após os desastres, para acelerar a tomada de decisões", destacou Juvandia Moreira. “Toda essa trajetória de conquistas reforça papel dos sindicatos e da mesa de negociação coletiva, inclusive para respostas imediatas à sociedade, como ocorreu nos casos de desastres ambientais", observou a dirigente.
Papel sindical no fórum internacional
Essa foi a segunda vez que a Contraf-CUT realizou, junto ao Ministério do Trabalho e à Fenaban, um diálogo tripartite do setor bancário na Sessão da Conferência Internacional do Trabalho, realizada anualmente pela OIT. Na primeira vez, que ocorreu ano passado, a confederação organizou o diálogo “As tecnologias disruptivas como IA e o futuro do trabalho”, que também contou com a presença de representantes do setor patronal e do sistema político brasileiro (judiciário, executivo e legislativo).
“Em 2024, apresentamos nossas análises sobre o impacto das mudanças tecnológicas no mundo do trabalho e como temos lidado com esse cenário em mesa de negociação. Nós entendemos que a legislação sobre Inteligência Artificial que foi aprovada no Senado e agora aguarda debate na Câmara dos Deputados, é fruto dessa atuação do movimento sindical em fóruns como este", concluiu a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira.
Neste ano, além das representantes do movimento sindical bancário, organizados pela Contraf-CUT, participaram o ministro do Trabalho e Emprego do Brasil, Luiz Marinho; os ministros do Tribunal Superior do Trabalho, Aloysio Corrêa da Veiga (presidente), Sérgio Pinto Martins e Antônio Fabrício de Matos Gonçalves; o procurador-geral do Trabalho, José de Lima Ramos Pereira; e os deputados federais Leonardo Monteiro, Leo Prates e Geovania de Sá.
Do lado do setor patronal, participaram o diretor-executivo de Relações Institucionais, Trabalhistas e Sindicas da Fenaban, Adauto Duarte, e a assessora da CONSIF e Fenaban, Paula Lins.
Representando a UNI Finanças Global, que foi convidada para acompanhar as discussões, estiveram Ângelo Di Cristo, chefe de departamento da UNI Finanças Global, e a coordenadora da entidade, Anna Harvey.

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